Esta segunda-feira, 13/11, é um dia simbólico para o Programa WASH. Nesta mesma data, há 10 anos, acontecia o primeiro evento que seria o pontapé das atividades do Programa, que teve suas origens no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, onde também funcionava o Instituto Federal – Campus Campinas.

Tudo começou com a abertura das portas da unidade de ciência e tecnologia para que a comunidade pudesse usufruir daquele espaço e, também, encontrar e ter acesso, ali, ao aprendizado de programação de computadores e informática de forma simples, rápida e lúdica.

A ideia de abrir ao público a unidade partiu do atual coordenador do Programa WASH, Victor Mammana, físico e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), à época, diretor da unidade, que rememora essa história, nesta data comemorativa.

Como surgiu a ideia do Programa WASH, no CTI Renato Archer? Qual era o público atendido e mobilizado na primeira oficina do WASH?

Victor Mammana: Tudo começou na relação de aprendizado entre mim e minha filha. Apresentei a ela o Programa Scratch, de forma lúdica, e percebi que rapidamente ela assimilou o software e conseguiu fazer muitas coisas. Então, vi que ele poderia ser replicado a outras crianças. Também, naquele momento, trazia a minha experiência com o uso do Scratch, durante a análise do Projeto “One Laptop per Child” (OLPC) do Governo Federal, que tinha como objetivo ampliar o uso intensivo das tecnologias de informação em todo o mundo.

Preciso destacar, ainda, a minha experiência de infância com a tecnologia, quando pude vivenciar com a professora Cecília Baranauskas, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a experiência de brincar com o Logo. Somado a isso, já havia conversado com algumas pessoas sobre a possibilidade de implantar um programa de inclusão digital dentro do CTI. Foi uma espécie de caldeirão de ideias. Havia ainda a proposta de atuar com os “hackers do bem”, e pensamos em fazer o primeiro evento hacker, voltado à faixa etária do ensino médio. Pensamos, ainda, em trazer crianças e separar por faixa etária. Compartilhamos esse sonho com muita gente, professores de universidades e representantes de Software Livre, por exemplo.

Essas pessoas trouxeram sugestões de softwares como o Alice, e pensamos em fazer salas de Alice, salas de Scratch e salas de hackers, misturando diversas faixas etárias, num sábado, utilizando as instalações do CTI Renato Archer.

O evento foi um sucesso e percebemos que as crianças deveriam ser nosso foco. Nesse momento, já tínhamos batizado o Programa como “Workshop de Aficionados em Software e Hardware”. A palavra “aficionados” foi como traduzimos o termo “hackers”. Ainda, acompanhávamos a proposta do Papert e achávamos que o OLPC, com a proposta de compra de um computador por criança, não era o mais adequado à educação brasileira. Destaco, também, a influência de trabalhos da professora Afira Ripper da Unicamp, entre eles o Projeto Ciência na Escola e sua relação com o MIT (Massachussets Institute Technology).

E como aconteceu essa primeira oficina, o desafio de definir e reunir o público no CTI Renato Archer?

Victor Mammana: A primeira oficina reuniu uma boa quantidade de crianças e muitos adultos e adolescentes. A atividade aconteceu nas dependências do CTI (auditório e salas de computação), mas, tínhamos o desafio de atrair as crianças do bairro mais próximo à infraestrutura do CTI, a Vila Olímpia.

Foi, então, que por meio do ex-vereador Pedro Tourinho, chegamos ao bairro. Fizemos um almoço com a comunidade e contamos com o apoio, também, do vereador Paulo Bufallo.

Tourinho já reivindicava que o CTI pudesse ser um espaço importante para uso da comunidade. Ele chegou a enviar um ofício, reivindicando essa apropriação do espaço pela comunidade, pois ali tinha campo de futebol, era uma infraestrutura grande e ociosa aos finais de semana. A princípio, houve um parecer contrário da área técnica do CTI para não receber as crianças ali.

Já o vereador Paulo Buffalo foi importante para o Programa começar a receber as primeiras emendas parlamentares.

O ponto que impulsionou a primeira oficina foi, mesmo, a organização desse almoço pelo vereador Tourinho, que mobilizou a comunidade da Vila Olímpia.

A partir da primeira oficina, vocês já perceberam que o WASH teria vida longa? Qual o impacto dessa oficina para a continuidade dos trabalhos?

Victor Mammana: Com essa mobilização, pós-evento de hackers, nós definimos que as crianças da Vila Olímpia seriam o nosso público. Fomos em busca de assistentes sociais do Conselho Municipal da Infância e Conselho Tutelar para acompanhar o trabalho, para estarmos totalmente dentro das regras do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Na sequência, fomos atrás da Psicologia da Puc Campinas e conseguimos os psicólogos, que atuavam nas rodas de conversa, com a proteção das crianças.

Aí, o trabalho foi sendo expandido para além das oficinas de software.

Outro ponto de expansão foi que o Projeto, que atuava com ciência, tecnologia, matemática e engenharia, passou a trabalhar com artes e inclusão digital pela vivência e sugestão da Elaine Tozzi, com essas temáticas e outras, como cultura e saúde. Percebemos que precisávamos de arte, sempre.

Enfim, foi uma construção coletiva. E todos os voluntários colocaram bastante energia para concretizar tudo, porque existiam desafios a superar.

E o que vocês fizeram nesta primeira oficina?

Victor Mammana: Na primeira oficina, nós trouxemos uma pessoa para falar sobre drones; trabalhamos com o software Alice, o Scratch e o Arduino, bancados por nós. Compramos 15 kits, porque não havia qualquer possibilidade do CTI ou a comunidade arcar com esses gastos.  Tudo isso nos ajudou a definir o que podíamos oferecer, o que era viável fazer, para que o  WASH fosse  se consolidando.

Mais sobre a primeira oficina do WASH:
A primeira oficina do WASH, no CTI Renato Archer, reuniu 67 crianças da Vila Olímpia, bairro da região Norte de Campinas, às margens da Rodovia D. Pedro e próximo às instalações do CTI Renato Archer, em 13 de novembro de 2013. Ali, foram realizadas mais 60 oficinas  em 2014, ministradas por 25 bolsistas.

A realização das oficinas, nesta primeira fase do Programa WASH, só foi possível graças ao envolvimento comunitário e o espírito colaborativo de inúmeros voluntários.

Passados 10 anos, o Programa foi levado a Diadema, Guarulhos, São José dos Campos, outros inúmeros municípios paulistas, entre eles, Campos do Jordão, Jacareí, São Carlos; diversas cidades do Paraná, destacando-se municípios como Prado Ferreira e Londrina, além de cidades do Consórcio de Desenvolvimento e Inovação do Norte do Paraná (CODINORP): Assaí, Cafeara, Centenário do Sul, Florestópolis, Guaraci, Jaguapitã, Lupionópolis, Miraselva e Porecatu, além de Bela Vista do Paraíso, Cambé, Doutor Camargo e Santo Inácio. Outro município que adotou a metodologia WASH foi Belém, no Pará, com parcerias na Escola Funbosque.

Redação: Denise Pereira